domingo, 5 de julho de 2009

SALVADOR CABRAL: PADRE OU POLÍTICO?

Foto Jn
A notícia da candidatura do Padre Salvador Cabral, pároco de Nine, Arnoso Santa Eulália e Louro(?), a candidato a presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão, surprendendeu-me. E julgo, que nos dias que correm, surpreende qualquer cidadão, crente, cristão e católico. Afinal o que leva o Sr. Pe Salvador Cabral a prescindir de tempo do seu rebanho para se dedicar ao serviço público?

A ambição? O protagonismo? Outros interesses pessoais?
Será mesmo necessário um padre na Assembleia Municipal tal como ele diz "outras pessoas apoiam-me e pedem-me para moralizar a política" (JN 2606-2009).
E quem vai moralizar as comunidades que preside e que lhe foram confiadas? Continuará a ter tempo para dedicar ao seu rebanho?
No ambão, é o padre ou o político a fazer a homília?
Compreendo, os actores vestem e "encarnam" diversos papeis. Posso concluir que o Padre Salvador cabral, chega à sacristia e diz: aqui está o padre salvador Cabral; depois, já no adro da igreja, apresenta-se como o político Salvador Cabral que vai pôr a moralidade na política. É assim tão fácil?

Não me preocupa a sua candidatura, nem muito menos o partido que se candidata. Como cidadão tem esse direito. E o facto de ser padre, não deixa de ser cidadão. Mas ser padre: homem de Deus, construtor de união entre os fiéis, de convergência, promotor do bem, anunciador da Boa Nova de Jesus.

Sr. padre Salvador Cabral, só lhe resta uma coisa: ou ser político ou padre. Se quer continuar com a sua candidatura deve suspender a suas funções paroquiais, tal como defendem alguns politólogos e a própria hierarquia da igreja.

"Um padre tem que ser padre a tempo inteiro, ser padre para todos e, ao fazer parte de um partido político, passa a ser padre mais para uns que para outros", referiu o arcebispo de Braga e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, comentando assim a candidatura do padre Salvador Cabral; e prosseguiu, "soube da candidatura à Assembleia pelos jornais porque ninguém falou comigo sobre o assunto". "Não sei se o senhor padre de Nine sabe o significado da palavra obediência". (Jn 26-07-2009).

"Ser padre implica universalidade e isenção", salientou D. Jorge Ortiga, em declarações à Agência Lusa.

Na apresentação da candidatura, o padre Salvador Cabral, à Assembleia Municipal de Famalicão, frisou que a entrada na política “não interfere com o papel de padre”. “Aceitei o convite e assumo a candidatura como complemento à minha missão enquanto sacerdote, defensor dos Direitos do Homem e dos Direitos das Crianças, como lutador pela liberdade, igualdade e fraternidade entre os homens, pela justiça social, pela solidariedade e pela paz”. (Correio do Minho, 26-06-2009)

Belas palavras!! Só na política se consegue promover tais direitos? E onde está a missão de sacerdote? Mesmo qualquer leigo tem o dever de denunciar as injustiças, a desigualdades, as violações dos direitos dos mais frágeis.

Segundo as normas do Direito canónico, um sacerdote poderá candidatar-se se não existirem outras pessoas na localidade habilitadas para o cargo ou se o interesse público se sobrepõe ao exercício do sacerdócio.
Até parece que em Famalicão não existe mais ninguém que seja capaz de levar a dignidade à política. É o meu sentimento de revolta. Pois, não devemos misturar política com religião. As duas terão que dialogar mas nenhuma se deverá sobrepôr ou mesmo impôr. Quando tal acontece, invertem-se os papeis e os valores. Afastam-se as pessoas.

Espero que o altar das igrejas não se tranforme num local de propaganda e de promiscuidade. E cada um saiba desempenhar a sua Missão de Padre ou de Leigo.
Não se afaste ainda mais os fiéis da reunião dominical por motivos políticos ou outros interesses.

2 comentários:

Anónimo disse...

O senhor tem aqui um texto muito bem elaborado mas repare, nao acha que se a igreja catolica tivesse um papel mais activo dentro do panorama politico as coisas nao seriam ligeiramente diferentes? se existissem duas duzias de homens como ele neste país nao haveria um fosso tao grande entre ricos e pobres...pense nisso!

José Silva- Nine disse...

Não conhece o padre Salvador Cabral certamente. É de uma energia contagiante. Não era morno; pequeno de estatura mas de grandes obras. Pena que não o conheça melhor para que pudesse comparar a obra com outros párocos que conhece bem.
Foi destituído de funções de forma pouco digna; também não lhe perdoaram a intromissão na politica.
Não era da Póvoa de Lanhoso nem do PSD. Um amigo

 

likeable stuff