sábado, 9 de janeiro de 2010

PARÓQUIA DE TELHADO: QUE FUTURO?

No início de mais um ano, volto a escrever para alertar e despertar as consciências adormecidas. De facto, há na nossa sociedade pessoas, entidades que gostam que o povo ande entretido e até anestesiado. Se não é com o futebol, é com casos que entretém e não deixam que o povo pense. É o que se passa neste momento no nosso país: não interessa falar da verdadeira crise, lança-se na sociedade o tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Serve para tentar esconder problemas graves e sérios que afectam muitos portugueses (o aumento do desemprego, a instabilidade económica, a crise social, o fecho diário de muitas empresas). Por isso, constatamos que há uma irresponsabilidade muito grande por parte daqueles que elegemos e confiamos os destinos do nosso país. Antes das eleições é só promessas. Depois de sentados e instalados fazem um manguito ao “Zé Povinho”. Mas curioso que o Povo vê, sabe e deixar andar. E muitas vezes continua a aplaudir. Pois dizem, são todos iguais. E os governantes continuam a gerir, digo, gastar, mal o nosso dinheiro. Queremos ser como os outros nalgumas coisas. Mas nas essenciais (ordenados, saúde, impostos, produtividade, reformas, justiça…) continuamos na cauda dos países da comunidade.
É o país e a minha terra. Que futuro?
A nossa paróquia está a ficar parada. Gostava de a ver mais dinâmica, mais evoluída social e culturalmente. Com meios, recursos e espaços para os jovens se encontrarem, os idosos partilharem os momentos de solidão e de partilha de experiências.
Sinto que nesta terra há pessoas que receiam quando outras pensam, têm ideias e projectos. Vivemos no mundo onde é necessário reflectir e não se deixar levar por aquilo que nos querem impingir ou até mesmo tentar uma “lavagem” ao cérebro. Já passou o tempo de um pensar e os outros seguirem ao toque da corneta. Ou o tempo de ouvir e calar. Na vida, muitas vezes, precisamos de fazer silêncio, parar e reflectir sobre o presente e o futuro da nossa comunidade. Olhando para o passado, não se vislumbra grande futuro. Muitas vezes me interrogo: Afinal o que é feito da vontade do povo de Telhado? Onde está a vossa ousadia, a vossa coragem? Talvez o povo de garra, de energia, de luta perdeu-se no tempo.
Por isso, o pároco de Telhado, recentemente, afirmava no altar: “muitos de vós não tendes Fé. Tendes fezes”. Será que tem razão? Ou o povo de Telhado perdeu mesmo a fé?
Aliás, na altura, tal afirmação além de me deixar perplexo provocou-me a dúvida se fé teria plural ou não. Mas de facto, fé não tem plural: é fé. Ou o crente tem fé e, acredita, ou não tem fé e, simplesmente, não acredita. Portanto, fezes, pode ser tudo menos o plural de Fé.

Preocupa-me ver o povo de telhado apático, indiferente, de braços cruzados. Um povo que continua a ignorar os problemas sérios que permanecem nesta terra. Povo que não reage e não quer ver o que é óbvio. Nada diz e muito menos faz. Vejo e oiço a criticar. Mas não vejo este povo de Telhado a reunir-se, a discutir os assuntos com seriedade, frontalidade, verdade e sem medo. Quem o faz? Onde? E quando? Não tenho conhecimento. Só burburinho e nada mais. Muitos homens e mulheres assistem e muitas vezes lavam as mãos como Pilatos. Fazem de conta que não lhes diz respeito.
Mas chegará o dia em que seremos responsabilizados pela nossa inacção. Pois, pecar pode ser por acção ou por omissão. E muitas vezes, os pecados de omissão são tão ou mais graves que os de acção. E tantas coisas que deixamos de fazer porque não nos queremos chatear, pois dizem, estão cansados.
Também os “altos responsáveis” continuam a pactuar com este estado de coisas. Eles acham que deve ser resolvido com diálogo, com palmadinhas nas costas. Diálogo? Nesta terra não existe diálogo nem tolerância. E ai daqueles que levantam a voz e discordam. Usa-se de vingança, afasta-se ou tenta-se afastar pessoas, acabam-se movimentos, deixa-se tudo ao abandono e em plena degradação.
Esses Responsáveis, aparecerão um dia a tentar remediar o que já não tem cura. Aparecerão como salvadores e apaziguadores. Eles sabem mas fazem de conta que está tudo bem. Sorriem, exortam ao trabalho, ao convívio. Pedem a mudança mas eles próprios não mudam nem exigem porque lhes falta a coragem e capacidade de exigência e respeito.
Povo de telhado está na hora de acordar e sair deste marasmo.
Vale a pena sonhar como diz o poeta António Gedeão na Pedra Filosofal:


Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança
.


Neste Natal não foi possível “arrancar as barbas” e “enterrar o Pai Natal” nem muito menos “atirá-lo pela chaminé e queimá-lo”.
Mas em 2010, é preciso enterrar e colocar de lado muita coisa. Sem isso, Telhado continuará a regredir. Pense e faça alguma coisa por esta terra que se chama Telhado.
Não deixe que o património humano, cultural e material continue a degradar-se.
Artigo publicado no Jornal Pegadas em 10 de Janeiro de 2010.

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