No passado dia 16, reuniu o Conselho Presbiteral ao qual D. Jorge Ortiga presidiu. O Conselho Presbiteral é o órgão representativo de todos os sacerdotes, equivalente a um “senado” do Bispo para o governo da Diocese.
Nesta nota, o arcebispo de Braga, Dom Jorge revela algumas preocupações nesta Igreja diocesana a que preside. Mais do que isso, estão patentes alguns dos problemas que a diocese tem vivido com alguns sacerdotes. Relembro aqui os casos recentes ( Fafe e S. Torcato; e outros que não sendo públicos preocupam o responsável desta diocese de Braga). Dom Jorge admite que a Igreja em Portugal “poderá estar a viver um momento histórico” que a obriga a reposicionar-se face à sociedade actual.
Para este responsável, a Igreja foi desafiada a “repensar-se” para delinear “uma pastoral adequada aos novos tempos”. Aos padres, em particular, D. Jorge Ortiga pediu que sejam “discípulos” e não “mercenários da religião e da caridade”.
Trancrevo o texto de D. Jorge Ortiga para a abertura dos trabalhos sobre o Conselho Presbiteral Arquidiocesano, de terça feira, dia 16 de Novembro de 2010. Os sublinhados são meus.
"A Igreja em Portugal poderá estar a viver um momento histórico. Foi desafiada a “repensar-se” para delinear, no discernimento do Espírito, uma pastoral adequada aos novos tempos. Não é pretensão encontrar alternativas pastorais que visem apenas substituir ou passar a novos modelos.
Deste pressuposto emerge a interpretação da actual crise como ressurgimento de um discipulado a caminho de Emaús, pronto a escutar e a viver a surpreendente novidade da Palavra de Deus. É certo que não se trata duma época muito reconfortante. Não obstante, com ela advém uma nova hipótese e oportunidade para a Igreja se reposicionar teológica e antropologicamente no mundo. Uma leitura crente e orante da realidade poderá fazer voltar o nosso olhar para onde a vida é precária e débil e responsabilizar-nos na credibilização de um Deus amigo dos homens.
Mas o que nos falta para realizar quotidianamente uma nova primavera na Igreja? Bento XVI, citando João Paulo II na sua homilia do Porto, considera que “a Igreja tem necessidade sobretudo de grandes correntes, movimentos e testemunhos de santidade entre os fiéis, porque é da santidade que nasce toda a autêntica renovação da Igreja, todo o enriquecimento da fé e do seguimento cristão, uma reactualização vital e fecunda do Cristianismo com as necessidades dos homens, uma renovada forma de presença no coração da existência humana e da cultura das nações”.
Na aceitação desta visão surge necessariamente um apelo à conversão do nosso modo de estar em Igreja. Por isso, inquieta-me o modo e o tempo que os sacerdotes têm dedicado à Evangelização da Boa-nova de Cristo. Algumas questões se colocam:
- Onde está centralizada a nossa pastoral?
- O que nos move?
- O que é ser discípulo de Cristo, hoje?
- Quais as nossas preocupações e prioridades fundamentais?
- A quem e o que é que buscamos?
- Como acolhemos as pessoas nas nossas comunidades?
- “A disciplina normativa”, por vezes único critério, é compreendida e devidamente explicitada à luz do Evangelho?
- Actuamos como discípulos ou como mercenários da religião e da caridade?
- Será que não temos transformado a nossa vida numa mera auto-realização pessoal dos nossos projectos?
† Jorge Ortiga, A.P